Esses dias tivemos um assunto que ficou em alta devido acontecimentos do programa Big Brother Brasil da Rede Globo.
E depois de explicar um pouquinho mais lá nos meus stories do instagram sobre o que seria uma compulsão, recebi muitas mensagens com dúvidas e comentários e por isso resolvi abordar aqui no meu blog mais profundamente. Acho importante desmistificar alguns conceitos e mostrar a seriedade do tema que gira em torno dos transtornos alimentares e como é importante evitar fazer comentários sobre o corpo ou sobre as escolhas alimentares dos outros.
Primeiro de tudo precisamos diferenciar os comportamentos alimentares.
Entendendo os Comportamentos: Impulsividade, Exagero e Compulsão
Muitas vezes, confundimos impulsividade, exagero e episódios de compulsão alimentar. A impulsividade, que pode desencadear a compulsão, é um comportamento rápido e pouco planejado. Já o exagero ocorre ao comer mais do que necessário, podendo ser influenciado por situações específicas, mas normalmente nao causa pensamentos ruins repetitivos. É algo que acontece, a pessoa pode até pensar que devia ter comido menos, mas logo passa e "vida que segue". Já os episódios de compulsão envolvem comer uma quantidade grande de comida, com uma sensação de perda de controle, podendo ou não indicar um transtorno alimentar se acontecer com recorrência.
Critérios do Transtorno de Compulsão Alimentar:
Para se caracterizar como um transtorno de compulsão alimentar existem critérios que são estabelecidos pelo Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders ou Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), sendo que requer os cinco pontos a seguir, listados de A a E, conforme abaixo:
A) Episódios recorrentes de compulsão caracterizados por:
1 - Ingestão, em um período determinado, de uma quantidade de alimentos definitivamente maior do que a maioria das pessoas consumiria;
2 - sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio;
B) Os episódios de compulsão alimentar estão associados a três ou mais dos seguintes aspectos:
1 - comer mais rapidamente que o normal;
2 - comer até se sentir desconfortavelmente cheio;
3 - comer grandes quantidades de alimento na ausência da sensação física de fome;
4 - comer sozinho por vergonha do quanto se está comendo;
5 - sentir-se repugnante, deprimido ou muito culpado após comer uma grande quantidade de alimentos.
C) O comportamento alimentar é fonte de angústia, sofrimento para a pessoa
D) Os episódios ocorrem, em média, ao menos 1 vez por semana durante 3 meses;
E) A compulsão alimentar não está associada ao uso recorrente de comportamento compensatório associados à bulimia nervosa e os episódios de compulsão não ocorrem na vigência de bulimia nervosa ou anorexia nervosa.
Por que alguém desenvolve um transtorno alimentar?
Nenhum transtorno alimentar acontece por um único motivo. Todo transtorno alimentar é multifatorial, podendo ter:
Fatores de predisposição:
como ser do Sexo feminino (a prevalencia é maior nas mulheres pela pressão estética),
ter história familiar de transtorno alimentar (filhas de mães com transtornos alimentares tem maior chances de desenvolver),
ter baixa autoestima,
ter perfil perfeccionista
Dificuldade em expressar emoções
Fatores precipitantes como:
iniciar uma dieta restritiva (nem todo mundo que faz dieta restritiva vai ter uma transtorno alimentar, mas todo transtorno alimentar começa com uma dieta restritiva)
Separação (dos pais por exemplo ou mudanças de cidade)
Perdas familiares
Alterações na dinâmina familiar
Expectativas irreais (escola, profissão, pessoal)
Menarca (AN)
E ainda existem fatores que são mantenedores da doença como:
Alterações neuroendócrinas
Distorção de imagem corporal
Distorções cognitivas
Ciclo típico da compulsão Alimentar
Nem todo mundo apresentará esse ciclo igualzinho, mas é bem comum que seja dessa forma:
Abordagem Multidisciplinar no Tratamento:
O tratamento efetivo requer uma equipe multidisciplinar especializada em transtornos alimentares. A abordagem comportamental na nutrição é essencial, visando reduzir episódios de compulsão e estabelecer padrões alimentares saudáveis. Psicoterapia cognitivo-comportamental é a primeira linha na psicologia e técnicas de atenção plena (mindfulness) podem ser usadas tanto na Nutrição quanto na Psicologia.
Mudanças de Estilo de Vida e Acompanhamento Nutricional:
O tratamento nutricional muitas vezes será focado em mudanças de estilo de vida e também nas melhorias dos parâmetros clínicos (quando houver). Por ser comum (mas não regra) os pacientes com TCA terem sobrepeso ou obesidade, muitos apresentam comorbidades como hipertensão, diabetes, dislipidemia, esteatose hepática entre outras. Além disso, ajudar o paciente a criar rotinas, identificar e nomear emoções, além de promover um relacionamento saudável com a comida e com o corpo são aspectos cruciais. O exercício físico prazeroso, qualidade do sono e atividades de lazer são essenciais para o tratamento efetivo.
Compreendendo o Comer Emocional:
É importante distinguir o comer emocional do transtorno de compulsão alimentar. O comer emocional é quando usamos a comida para regular alguma emoção. Nem todo comer emocional será uma compulsão. A nutrição comportamental pode te ajudar a identificar o que de fato está acontecendo.
Importante falar que mesmo que não seja uma compulsão, tratar o comer emocional quando ele está disfuncional (muito frequente e/ou trazendo prejuízos para saude física e/ou mental) é super necessário, mas são abordagens distintas. Por isso é importante ser atendido por profissional especializado.
Espero que este post tenha te ajudado a entender melhor o que é transtornos de compulsão alimentar. Uma abordagem multidisciplinar, com foco na nutrição comportamental e psicoterapia, é fundamental para tratamento efetivo.
Se você ou alguém que você conhece enfrenta desafios alimentares, não hesite em procurar ajuda especializada. A jornada para um relacionamento saudável com a comida e o corpo é possível, e estou aqui para apoiar você nesse caminho.
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